Menina de pés decalços apertando campainha e correndo pelas ruas. Pulava o muro da vizinha, e ria impiedosamente quando ela ameaçava me denunciar a mamãe...
Saia do banho direto pro quintal rolar com meu cachorro pelo chão de lama. Não penteava os cabelos, sonhava almoçar chocolate, furava panelas pra depois trocar por algodão-doce sabor "dez bolas de sorvete por um real".
Pulava alto, sonhava muito, chorava escondido. Corria demais.
Palavreava sobre a vida, acreditava no céu, tinha fé nos homens.
Hoje, menina crescida, nem tanto -assumo, penso em tudo que deixei pra trás, nessa coisa que chamam "amadurecer". Sinto falta dos sonhos bobos, dos amigos que eu jurei que seriam eternos, da preocupação em terminar a "tarefinha de casa" pra não deixar os amigos esperando pra bater aquela "pelada" no meio da rua. Tenho pressa o dia inteiro, hora marcada, telefones tocando. Os compromissos de 'gente grande' me chamam.
Ando estressada, mais ainda dá tempo de salvar meu dia. Tirar os sapatos, sentir o chão, tomar um banho de chuva cinematográfico, comer uma panela de brigadeiro vendo tv, depois dormir tranquilamente. É, sou dessas.